Sou Professor formado pela Universidade Federal de Mato Grosso, curso dioturno devido as aulas de campo e muitas viagens, no início da década de noventa.
Antes de adentrar a Universidade para os estudos da Licenciatura Plena, ouvia relatos das dificuldades no sistema educacional do Brasil.
Aprendi na prática que ouvir é uma coisa.
Vivenciar a situação "in loco" é bem diferente.
Antes da formatura, durante o estágio trabalhei nas melhores escolas centrais da capital para lecionar.
O meu primeiro emprego de Professor titular foi na periferia da cidade, distante da minha casa há mais de vinte e cinco quilômetros de distância e no período nortuno.
Época em que você assinava o contrato no mês de Fevereiro e só recebia o primeiro salário no mês de agosto ou setembro, quando tinha sorte.
Detalhe, o salário do Professor NS era igual ao salário do Auxiliar de Serviços Gerais, com a diferença que você recebia uma gratificação denominada "Pó de Giz", o equivalente a cem por cento do salário pago, ou seja, dois salários mínimos e com todos os atrasos.
No primeiro momento trabalhei com empolgação, percebi que a metodologia de ensino utilizada não se aplicava a realidade social da periferia, alterei o procedimento trabalhando com a realidade local.
Tenho origem da educação tradicional, onde alunos estudiosos são premiados com as melhores notas, menções e a devida aprovação.
Me deparei com uma realidade um tanto distorcida e situação crítica com alunos oriundos de "Gangues violentas", lidavam com tráfico de drogas, fui ameaçado de morte e várias vezes o ônibus que eu utilizava no final de noite era atingido por pedaços de concretos e por pura sorte uma dessas pedras não pegou em cheio a minha cabeça.
Uma das coisas absurdas das escolas de hoje é que o Professor é obrigado a dar notas ou avaliar de forma positiva os alunos indisciplinados, descompromissados para com o aprendizado escolar, preguiçosos, desinteressados, violentos e faltosos, para que o índice de aproveitamento e aprendizagem da escola esteja entre as melhores do município ou do estado.
Interessante que houve uma eleição para escolha do melhor professor da escola eu fui eleito o melhor.
Resultado final: em pleno mês de agosto peguei os meus dezoito Diários de Classe e os entreguei a Diretora da Escola.
Nunca mais voltei a lecionar.
Critico o sistema de ensino, haja vista que o Professor foi transformado em vítima e refém da violência por parte dos alunos, tanto na área central como na periferia.
Os pais não se consientizaram até o dia de hoje que a educação é dever da família.
O aprendizado escolar é responsabilidade da escola.
Com aprovação do Estatuto do Adolescente e da Criança a situação piorou ainda mais.
Cinco anos atrás conclui a elaboração do Regimento Interno da Escola onde trabalho, e o Conselho Municipal de Educação suprimiu do referido Regimento todos os artigos em se utilizaria como critérios para pressionar os alunos a se comportarem. Aboliu obrigatoriedade e a necessidade da utilização do uniforme escolar.
A expressão "suspensão do aluno por mal comportamento" foi considerado quase que a um ato criminoso.
A repreensão máxima ao aluno na escola é o registro dos seus atos em um livro aliado a uma conversa com os pais e ou responsável. E só.
E o professor agredido moralmente e físicamente?
Nada.
Absolutamente nada a favor dos professores.
Diante do exposto achei por bem mudar de atividade profissional em nome da qualidade e segurança de vida
Gostaria de ter uma melhor noção da realidade do ensino educacional no Brasil.
Porém encontro dificuldade de encontrar pesquisas seguras e imparciais sobre a real qualidade do nosso sistema educacional.
Baseio as minhas idéias em uma série de fatores que presenciei e vejo, como por exemplo:
A maquiagem dos resultados dos índices de aproveitamento do sistema público de ensino, que nem de longe corresponde a verdadeira realidade em que os nossos professores e alunos estão submetidos.
Basta ver a competição internacional em que os alunos brasileiros são submetidos a mostrar o seu conhecimento geral, e inevitavelmente o Brasil fica atrás de países Africanos, atras da Bolívia, etc.
E agora? Fazer o que?
Feliz dia dos Professores?
Você decide.
Boa sorte.
Fonte(s):
Opinião pessoal.